quinta-feira, 3 de abril de 2008

Rio de Janeiro, 1º de abril de 1963.

Amada,

Escrevo estas timidamente porque hoje meu silêncio habitual não contém meu sentir. Quero te desejar feliz aniversário. Você não tem idéia – você realmente não sabe – o quanto a sua presença no mundo me faz bem e o quanto eu sou grato ao que quer que seja responsável pela nossa existência, de poder ter vindo ao mundo na mesma época em que você passa por aqui nestas formas tão belas, com esta alma tão belamente lapidada que escapa pelos seus olhos. Claro que você nem imagina, afinal, já faz mais de mês que não nos falamos, e foram só três as vezes que nos vimos, apesar de que você me beijou em todos esses encontros e senti como se fosse experimentar estes beijos pela primeira vez ainda muitas vezes. Sim, por certo, sou patético. Pode apostar que tento viver aqueles versos dos seus sambas preferidos tentando não lembrar do quanto sofreram todos aqueles que os escreveram.
Mas é seu aniversário, e eu só quero comemorar, querida. Dar um abraço, afagar seus cabelos curtinhos. Como não faço idéia de onde te encontrar, escrevo esta carta pra enviar quando souber seu endereço. Ando trabalhando e estudando demais, espero poder me dedicar a descobrir seu paradeiro em breve.
Na verdade, já faz dias que penso neste seu aniversário. Acredite, dias. Mesmo que faça semanas que você já tenha se esquecido da minha existência. Estava cumprindo com afinco a tarefa de não me dirigir a você. Até que hoje no táxi passei pelo porto e o motorista comentou “esses navios são lindos”. Não sei o que isso ter a ver contigo, mas foi o que me despertou o desejo de lhe escrever. Ainda assim, era só um desejo, você sabe como sou meio austero com meus desejos. Mas a viagem era longa, eu estava indo pra Ilha do Governador e novamente seu taxista – claro que era seu, só me fez lembrar de você – disse que morava perto da sua escola de samba preferida. Jude, sua escola de samba! Talvez fosse um sinal. Então fiz a minha brincadeira particular com o destino e disse pra essa entidade que encaminha sinais e lê mentes que precisava de mais um sinal pra te procurar, já que estava tão determinado a te esquecer. E não é que no fim do dia vejo um livro com teu nome? Era o nome da autora. Não lembro o sobrenome, não lembro o título; era fino e verde-musgo. Quem, dentre tantos livros, presta atenção em um pequeno exemplar verde-musgo? Quem, dentre tantos nomes, tem o nome igual ao teu? Então escrevo. Escrevo e te imagino e te desejo. Festejo em mim o dia no qual você, linda, linda, apareceu no mundo.

Um dia espero comemorar tua vida contigo. Mesmo que não seja teu aniversário. Todo dia vai ser como se fosse quando nos reencontrarmos. Claro que vamos nos reencontrar, não se pergunte. Sei bem que teus raciocínios não te deixam ouvir a voz do coração, este que sempre soube o futuro de todos os amores que começam.
Querida, não consigo mais dizer nada. Recolho-me ao mesmo silêncio de quando leio seus versos. De quando ouvi os versos que você fez pra mim, lembra? Ai, como ainda estou apaixonado e nem sei pra onde endereçar esta carta!

Perdoa se me demoro em terminar estas linhas, mesmo já tendo anunciado seu fim. É como me despedir de ti sem saber quando nos retornamos a ver. Olho para este fino papel como olhei seus olhos todas as vezes que nos despedimos, ingenuamente perguntando se te contemplaria novamente, se nos beijaríamos novamente. Ah, como sou tolo, Jude, me perdoa. É que te amo tanto. Nem me preocupo em explicar, você sabe.

Feliz Aniversário. Receba esta carta e o meu amor, que você já tinha, como presente.
Hoje brindarei à sua vida sozinho.


Um beijo,
Antônio.

10 comentários:

Anônimo disse...

Nossa.
De novo: nossa!

Anônimo disse...

I´m blazing...
Acho que posso entender de teu amor.

Madame S. disse...

E me prendo a todas as letras destes livros. Pequenas bóias no mar do indecifrável.

Pq me soltar seria me perder demais, demais além da conta.


....

Ai, ai. Lindo, Carol.

Livia P. disse...

tão "de verdade".
gostei.

Ismar Tirelli Neto disse...

opa, carol!
brigado pela visita.
o "twist" a gente ainda não teve ocasião de gravar, mas há algumas outras faixas disponíveis no nosso myspace (myspace.com/ossubterraneos). espero que você curta. :-)

hasta!
I.

Luiz Vieira disse...

e como eu faço esses links?
beijo

Nocturna disse...

é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba, não.

lindo

Madame S. disse...

que tal conceder-nos o ar de sua graça blogolística com maior freqüência?

Anônimo disse...

LINDO
PROfundo
SEnsivel
Verdadeiro
não é meu....
.
.
.
.
não seria tao bom se o fosse.

PARABÉNS

Brenomf disse...

Lindo Carol, delicado, suave, nos toca profundamente.
Parabéns!