quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Porque é primavera e eu nada postei a respeito.
Porque eu adoro rosas.
Porque minha mini-roseira está crescendo.

Meditação à beira de um poema
Adélia Prado «


Podei a roseira no momento certo

e viajei muitos dias,

aprendendo de vez

que se deve esperar biblicamente

pela hora das coisas.

Quando abri a janela, vi-a,

como nunca a vira

constelada,

os botões,

Alguns já com rosa- pálido

espiando entre as sépalas,

jóias vivas em pencas.

Minha dor nas costas,

meu desaponto com os limites do tempo,

o grande esforço para que me entendam

pulverizam-se

diante do recorrente milagre.

maravilhosas faziam-se

as cíclicas perecíveis rosas.

Ninguém me demoverá

do que de repente soube

à margem dos edifícios da razão:

a misericórdia está intacta,

vagalhões de cobiça,

punhos fechados,

altissonantes iras,

nada impede ouro de corolas

e acreditai: perfumes.

Só porque é setembro.

terça-feira, 21 de março de 2006

uma das preferidas

Tanta coisa que eu queria escrever hoje...da lua igual ao sorriso do gato que a Alice encontra, me dizendo "depende de onde você quer chegar", da mulher com 7 filhos, do banheiro quebrado, da clarice, do samba...

mas um telefonema, uma mensagem conseguem mudar todo o sentimento/pensamento construído timidamente durante o dia.

então deixo aqui uma do pleminski que não tem erro

PROFISSÃO DE FEBRE


quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento

quarta-feira, 1 de março de 2006

Um exercício

Vi um documentário no eurochannel sobre a KT Tunstall. O que me chamou atenção foram os olhos meio puxados, a pele branquinha e um sotaque inglês bem do interior. No doc ela fez questão de enfatizar que já tinha mais de 30 anos e que era possível ser bem sucedida no show bizz mesmo "velha". Disse ter conquistado uma certa maturidade e calma pra gravar um trabalho que realmente tivesse a cara dela. Realmente, tem uma certa serenidade na sua voz, é gostosa de ouvir, nenhuma agressividade; aparentemente nenhuma pose.
Eye to the telescope, o disco novo, é bem feitinho. A primeira faixa, Other side of the world andou até tocando por aqui, talvez numa novela. Comercial demais pro meu gosto e também achei que foi a melhor produzida. Música de trabalho mesmo. Mas como ela tinha dito no doc que tinha gravado antes um disco que era mais rústico (que eu não achei), resolvi ouvir o resto do cd. Recomendo Under the weather, Suddenly I see, Miniature Disasters, Silent sea, Heal Over(a baladinha mais baladinha) e Big Black Horse and the Cherry Tree, que parece ser a mais famosa na Europa. Nesse música ela diz no, no, you're not the one for me, dispensando um cara como quem sabe o que quer (rs).
Espero que o disco anterior, que talvez seja independente, seja mais gostoso de ouvir, porque ela tem umas letras legais.

Deve ser legal ganhar dinheiro escrevendo o que o meu ouvido pensa, mesmo que seja uma grande besteira de total irrelevância como essa...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

As serpentinas

Hoje faz 1 ano que o meu avô morreu. Acordei apreensiva, afinal, não sabia como ia ser o clima do dia, como estaria minha mãe, meu tio, se iríamos fazer algo em memória – o que eu acho merecido. Mas apesar do pai ter dito que fazia questão de ir à missa no fim do dia, fomos todos ao clube, nós 7. Sol, piscina, calorzinho, grama, todo mundo junto. Almoço no restaurante. Depois do almoço fiquei pensando em ir à missa com meu pai, afinal, meu avô era católico. Mas depois lembrei que ele mesmo não fazia questão de ir à missa, aliás, raras foram as vezes que vi meu avô numa Igreja. Deus pra ele estava nas ações, no cotidiano, no "dar a mão". E fiquei naquela dúvida de ir ou não ir. Queria fazer algo pela sua memória.
Mas o final da tarde chega e curtindo o ventinho, olhando as montanhas e vendo a família toda junta, percebo que não podíamos todos juntos ter feito homenagem melhor. A família era o seu bem mais precioso. Gostava de ver todo mundo junto no domingo, ficava preocupado quando chovia e alguém ainda não estava em casa. Queria saber que dias eu teria "eventos" e que horas voltaria..."Ah, Itaipava é muito longe, você vai fazer seus pais ficarem acordados até você voltar?"
Enfim, sem que eu me desse conta, acho que passamos um dia juntos e sossegados como ele gostaria de ter passado. Nada mais em paz, nada mais comum, nada mais simples.

Na volta paramos numa confeitaria e justo a dona da confeitaria era amiga do meu avô. Reconheceu a vó, achou meu tio parecido com ele. Todo mundo gostava dele, todos sentem muito e dizem que sentem falta. Aí fiquei sabendo que o meu avô tinha ajudado muito um parente, acho que o marido, daquela dona. E é sempre assim...cidade pequena...a gente vai aos lugares, aí ouve uma história de alguém que ele ajudou ou de alguma grande brincadeira que ele tenha feito na época da Bohemia. E assim a vida dele continua pra mim, presente nos frutos das ações. Grande lição.



tava rolando um bailinho no fim do dia no tal clube...fiquei jogando serpentinas, depois reparando nelas; ô coisa social, essa serpentina. Você joga, não desenrola tudo, outra pessoa pega, joga o resto...uma criança passa puxa o fio e ninguém é dono da tirinha de papel.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Na casa feita de alvorecer.
Na história feita de alvorecer.
Na trilha do alvorecer.
Ó Deus Falador!
Seus pés, meus pés, revigora.
Seus membros, meus membros, revigora.
Seu corpo, meu corpo, revigora.
Sua mente, minha mente, revigora.
Sua voz, minha voz, revigora.
Suas plumas, minhas plumas, revigora.
Com a beleza diante dele, com a beleza diante de mim.
Com a beleza atrás dele, com a beleza atrás de mim.
Com a beleza acima dele, com a beleza acima de mim.
Com a beleza debaixo dele, com a beleza debaixo de mim.
Com o pólen bonito em sua voz, com o pólen bonito em minha voz.
Está repleto de beleza.
Estou repleta de beleza.
Na casa da luz noturna.
Da história feita de luz da noite.
Na trilha da luz da noite.


- oraçao navajo


Da juventude à morte, o que traz a cura é o divino; natural, belo. Não há que pensar a respeito, há que viver a respeito e em respeito. Sentir, ser. Amar é a única ação possível diante da inquietação, da alternativa à uma vida contemplativa. O que ainda me traz dúvidas é se amar como uma criança, que ama, mas não sabe que ama, contribui pro mundo. Talvez a vantagem de crescer seja amar apesar da consciência.

sábado, 11 de fevereiro de 2006

"I have to rock and read and roll", vai dizendo o Bob Dylan e eu vou concordando em meio a tantas coisas pra fazer e outras pra decidir, pensar a respeito...mas o disco do Bob dá um clima d viagem de carro, de estrada longa e percebo que é isso mesmo, o carro é meu corpo.

Ai, essa coisa de escrever online acaba mudando as idéias da cabeça muito rápido. Ia escrever sobre a menininha que mora com a avó que eu andei cuidando do caso nas últimas semanas, sobre o dia que eu cortei o cabelo e o outro dia que começou com um convite de uma amiga pra ir pra Machu Pichu e terminou comigo fazendo o mesmo convite.

Mas conversa vai, conversa vem, pelo msn e eu quis ler o blog de uma prima minha, que nem sabe que eu o leio e de lá fui parar numa página que também é uma das favoritas dela e dei de cara com esse texto que eu achei lindo.

Não dá pra comentar sem estragar o final. Só que eu também não lembro da primeira vez que vi o mar.

Mas isso já me lembrou agora de Bocochê, todo aquele amor e o fundo do mar. E Narizinho e o Prícipe do Reino das Águas Claras. Aff, chega.

As idéias já mudam outra vez e agora vou correndo ao teatro ver se ainda acho ingresso pra peça nova do Michel Melahmed, Dinheiro Grátis. Coisas (dessa vez boas) pra fazer...

domingo, 1 de janeiro de 2006

Adizabeba

Esse ano é ano de saias. De vestidos. De ser mais feminina. Até porque o calor em Niterói não me permite calças. Mas além disso, o feminino é mais suave e isso é o que espero que em 2006 seja diferente de 2005. Imagino esse ano com saia de rendas e pés descalços na areia fofa e branquinha, pisada pequenininha.

Também pretendo continuar um ardiloso trabalho que comecei ano passado: revisar meus valores; repensá-los, pesá-los e contestá-los. Aqueles que não forem refutados como se fosse uma discussão acadêmica são verdadeiros e meus, fruto de um trabalho de hata yoga, que é a yoga do diamante, uma cuidadosa lapidação interna. Aliás, acho que esse lance de valores tá muito ligado à família, afinal, é deles que aprendemos os primeiros.
E é um tanto complicado aceitar valores novos dentro de uma família que tem a mesma estrutura há tanto tempo. É como se fosse um prato novo na ceia de Natal, ou do primeiro dia do ano, que nem aqui. São tantas tradições, tanta fartura, parece tudo tão gostoso, pra que algo novo, pra que fazer diferente, já estamos habituados.
Mas então hoje eis que minha avó me surpreende: preparou adizabeba. Sobremesa nova, doce sabor novo. E todos iremos provar, degustar, e teremos opiniões, comentaremos e talvez ano que vem adizabeba novamente se encontre à mesa. Como um novo valor.

Pensei em falar de recomeços quando comecei a escrever também...mas de manhã eu e meu pai fomos buscar a vó e na volta demos um belo passeio de carro, em vários lugares que eu gosto. E vendo tantos prédios históricos de Petrópolis, alguns com história significante pra todos, outros só pra minha vida e fui pensando em quantos desses lugares eu já comecei algo e quantos recomeços foram precisos pra que essas construções, a maioria neo-clássicas, se tornassem o que são hoje. Recomeço ou começo não é algo pra hoje. Afinal, hoje é feriado e ninguém começa descansando, ninguém faz dieta hoje também.

Então, uma feliz continuação das nossas vidas! Já que o tempo é uma espécie de ilusão (é muito mais mágico e misterioso pra ser chamado só de ilusão).