segunda-feira, 28 de abril de 2008

As dores de Alice II

Alice deitada em sua cama tentava acordar. Já passava das oito e havia toda a rotina para recriar. Difícil levantar-se, mesmo com a persiana quebrada pela sua falta de delicadeza, pois agora a luz dominava o quarto todas as manhãs com seu calor. Mas hoje a claridade era demais até para acordar. Tanta luz assim doía os olhos e escurecia os pensamentos. Tenta se cobrir. Mas o frescor da manhã se foi, seu corpo começa a se molhar. Alice não é mais criança pra se esconder do dia por vir debaixo das cobertas. Aliás, essa reflexão a lembra de um louco professor explicando o porvir. O porvir não, o devir! O porvir não passa do futuro, o devir o excede. O professor da época da faculdade lhe diz em sua memória com os olhos arregalados e a mão negra apontando um dedo pro nada “O rio de ontem não é o mesmo do hoje!”. Decide que é assunto deveras incômodo e indigesto para toda aquela opressora luz do dia inteiro começando. Ou recomeçando, se usar o rio de Heráclito como metáfora.
O que fazer agora, o que fazer? Estala as costas se espreguiçando e quando termina deixa um pouco de luz entrar pelos ouvidos e se ouve dizendo para a janela: atraso, banho e chá de jasmim.

Um comentário:

Madame S. disse...

enquanto ainda houver cobertas, me escondo

que bata o sol do meio dia!

estarei sempre esperando o retorno da lua...

ps. Gostei dos novos ares que sopraram no visú do blog.